Protesto e realismo, os traços da literatura africana

Ferida por embates entre tribos, guerras, a África chama atenção por suas belezas naturais, costumes e também por sua prosa, que vem ganhando cada vez mais o mercado mundial de livros. Rica e diversificada, a cultura africana reflete em sua literatura um caráter militante e anticolonialista, devido aos anos em que o continente ficou sob exploração e domínio de potências europeias.

Segundo o professor Dr. Mário César Lugarinho, da Universidade de São Paulo, a maior parte das produções literárias antes do século XIX, nos países da África de língua portuguesa é considerada como literatura colonial. Após a independência, surge uma literatura nacionalista, com autores preocupados com a cultura local, chamada literatura pós-colonial.

Professor Dr. Mário César Lugarinho/Natalia Morato

O período atual, tem traços de uma realidade vivida durante governos totalitários e exploradores. O papel de destaque nessa prosa é concedido às mulheres, que relatam em livros suas experiências negativas em uma sociedade retrógrada e machista. A personagem Kambili, de “Hibisco Roxo” (2003), obra da escritora nigeriana Chimamanda Adichie, narra suas aflições com a violência doméstica vivida por ela e sua mãe.

Mia Couto, Pepetela, José Agualusa, Nadine Gordimer, Chimamanda Adichie são alguns dos nomes consagrados que desmistificam, relatam e explanam uma cultura que merece ser cada vez mais desfrutada.

Quem foi Joaquim Maia Ferreira?

Poeta, Joaquim Maia Ferreira, nascido em Luanda, na Angola, estudou no Rio de Janeiro. Teve contato com alguns estudiosos brasileiros, dentre eles Gonçalves Dias. Os primeiros escritos angolanos que temos conhecimento é de Joaquim.

Existe um texto de autoria desse poeta que é uma adaptação da Canção do Exílio para a Angola. Ele lembra das palmeiras da sua terra e que sente saudades de lá. Interessantemente começando com “Na minha terra tem palmeiras”. Ou seja, é uma apropriação de um texto brasileiro, para começar a falar de Angola.

Dá para dizer que a literatura angolana começou com Joaquim Maia Ferreira, em 1839?

Sim e não... É literatura porque é uma forma de representação da terra em que ele vivia, Luanda.
Há criticos que dizem que não, porque Joaquim poderia ser apenas alguém interessado em falar sobre a terra. Além disso, infelizmente, ele não gerou uma tradição. A forma de ele fixar aquele espaço não gerou tradição. E na literatura é importante gerar tradição, que é repetir determinados elementos no correr do tempo de maneira que eles se tornem permanentes para estabelecer uma indentificação a respeito de um determinado objeto.

A maior parte das produções literárias antes do século XIX nos países africanos de língua portuguesa não é considerada uma literatura tipicamente africana. Seria considerada uma literatura colonial.

Quadro da literatura angolana na USP/Natalia Morato

Em que momento a literatura africana se afirma, de fato, como africana?

Demoram a aparecer estudiosos oriundos dessas colônias que passam a se preocupar com a cultura local e entenderem que a cultura que existem nesses espaços não são europeias, que eles não vivem em um espaço distanciado da Europa.

No fim do século dezenove, na conferência de Berli, onde partilharam a África, começa-se um trabalho levando a uma nova política colonial, por todas as potências coloniais aos espaços africanos. A forma negligente de administração durante 300 anos nesses espaços se transforma.

A exploração na África era interessante enquanto havia tráfico de escravos, e com o término, as colônias precisaram ocupar esses espaços para gerar alguma riqueza. A partir dessa ocupação, surgem novas políticas.

É nesse momento que surgem as literaturas.

Hibisco Roxo narra as aflições com violência doméstica/Natalia Morato

Natalia Morato

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Conheça o Museu Biológico do Instituto Butantan

Clube mantém viva a arte do bordado